Diolino Jesus da Silva sempre foi desprovido de sorte! Ainda quando criança, os colegas de escola viviam rindo da cara dele, principalmente por causa de seu nome. É que seu pai, um humilde lavrador, gostava muito de ouvir os programas de rádio no armazém do Sr. Tavares, e de tanto ouvir os nomes dos artistas, resolveu colocar um nome diferente no filho que estava por nascer. Achava os nomes estrangeiros muito bonitos e importantes, daí escolheu um que estava sempre nos noticiários, um tal de John Lennon.
E assim foi... Nascido o garoto, tratou logo de registrá-lo, mas a caminho do cartório passou no armazém para comemorar o nascimento de seu primeiro filho, tomou umas e outras, ou melhor, tomou todas, e como não poderia deixar de ser, chegou no cartório já com a língua enrolada... Tentava, emocionadamente, pronunciar o nome que escolhera, porém o escrivão pouco entendia, e nervoso por ver que o homem se encontrava bêbado, registrou a criança do jeito que havia entendido... Daí o D I O L I N O e não John Lennon.
Contudo, Diolino foi crescendo... Dividia seu dia entre a escola e o trabalho, nisso ele já tinha uns dezesseis anos. A escola era um tormento! A matemática, definitivamente, sua maior inimiga. O português, nem tanto. Interrogava, exclamava, se aventurava na gramática, mas suas respostas ficavam mesmo nas reticências. As outras disciplinas lhe causavam profundas dúvidas. Gastava horas e horas tentando compreender porque um homem ficara famoso só porque uma maçã caíra em sua cabeça, e com ele nada acontecia, já que em diversas obras, e por diversas vezes, objetos mais pesados caíram em sua cabeça, causando-lhe apenas hematomas e dores.
Diante de tais infortúnios, tomou uma decisão radical: Parou de estudar! Vivia de biscates, mas não conseguia grande coisa. O azar e a falta de oportunidade lhe perseguia. Num momento de desespero, entregou-se aos vícios... Experimentou de tudo, desde drogas até religião, no final optou pelo álcool (mais comum e social!). Delírios alcoólicos eram comuns, e a sociedade bêbada de preconceitos, simplesmente o rejeitava.
Pobre Diolino... Afundou de vez na sarjeta ao ver Aninha, seu grande amor – ainda que platônico – nos braços de outro...
Diolino sofreu, sofreu muito, e o sofrimento abre e deixa cicatrizes, não raras vezes, eternas, e ele sabendo disso, lutou para que sua desgraça não bandeasse para a bandidagem.
Mas um dia, sem provas e injustamente, foi acusado e condenado como autor de um estupro. Diolino mal sabia que a vítima era Aninha, seu grande amor. E jogado numa prisão cheio de ladrões e bandidos de toda ordem, teve seu corpo torturado e violentado... E foi aí que Diolino se deu conta de que sua “vida” não passava de um grande equívoco. Equívoco esse, que na maioria das vezes é concretizado por uma sociedade forjada em falsa moral, que na ânsia cega por justiça, se sente no direito arbitrário de julgar tudo e a todos, e que prefere excluir a amparar pessoas que nem sequer tiveram uma chance.
Assim, ao assistir o noticiário local de ontem, nem me surpreendi quando deram a notícia do suicídio de Diolino Jesus da Silva dentro do presídio estadual, pois isto nada mais é que o resultado da força da sociedade, ainda que seja uma força hipócrita, tirana e imbecil...
“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem...”
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Olá Geraldo! Gostei do teu blog, dos teus escritos
ResponderExcluire fiquei por aqui. Te convido a conhecer também o meu
e se gostar, fique por lá pra gente trocar ideias,
enfim palavras e compartilhar também amizade.
Grande abraço e parabéns pelo conteúdo do seu blog!
Bruno
Texto muito bom.
ResponderExcluirJanice.