sábado, 7 de janeiro de 2012

Da perversidade social...

 
Diolino Jesus da Silva sempre foi desprovido de sorte! Ainda quando criança, os colegas de escola viviam rindo da cara dele, principalmente por causa de seu nome. É que seu pai, um humilde lavrador, gostava muito de ouvir os programas de rádio no armazém do Sr. Tavares, e de tanto ouvir os nomes dos artistas, resolveu colocar um nome diferente no filho que estava por nascer. Achava os nomes estrangeiros muito bonitos e importantes, daí escolheu um que estava sempre nos noticiários, um tal de John Lennon.

E assim foi... Nascido o garoto, tratou logo de registrá-lo, mas a caminho do cartório passou no armazém para comemorar o nascimento de seu primeiro filho, tomou umas e outras, ou melhor, tomou todas, e como não poderia deixar de ser, chegou no cartório já com a língua enrolada... Tentava, emocionadamente, pronunciar o nome que escolhera, porém o escrivão pouco entendia, e nervoso por ver que o homem se encontrava bêbado, registrou a criança do jeito que havia entendido... Daí o D I O L I N O e não John Lennon.

Contudo, Diolino foi crescendo... Dividia seu dia entre a escola e o trabalho, nisso ele já tinha uns dezesseis anos. A escola era um tormento! A matemática, definitivamente, sua maior inimiga. O português, nem tanto. Interrogava, exclamava, se aventurava na gramática, mas suas respostas ficavam mesmo nas reticências. As outras disciplinas lhe causavam profundas dúvidas. Gastava horas e horas tentando compreender porque um homem ficara famoso só porque uma maçã caíra em sua cabeça, e com ele nada acontecia, já que em diversas obras, e por diversas vezes, objetos mais pesados caíram em sua cabeça, causando-lhe apenas hematomas e dores.

Diante de tais infortúnios, tomou uma decisão radical: Parou de estudar! Vivia de biscates, mas não conseguia grande coisa. O azar e a falta de oportunidade lhe perseguia. Num momento de desespero, entregou-se aos vícios... Experimentou de tudo, desde drogas até religião, no final optou pelo álcool (mais comum e social!). Delírios alcoólicos eram comuns, e a sociedade bêbada de preconceitos, simplesmente o rejeitava.

Pobre Diolino... Afundou de vez na sarjeta ao ver Aninha, seu grande amor – ainda que platônico – nos braços de outro...

Diolino sofreu, sofreu muito, e o sofrimento abre e deixa cicatrizes, não raras vezes, eternas, e ele sabendo disso, lutou para que sua desgraça não bandeasse para a bandidagem.

Mas um dia, sem provas e injustamente, foi acusado e condenado como autor de um estupro. Diolino mal sabia que a vítima era Aninha, seu grande amor. E jogado numa prisão cheio de ladrões e bandidos de toda ordem, teve seu corpo torturado e violentado... E foi aí que Diolino se deu conta de que sua “vida” não passava de um grande equívoco. Equívoco esse, que na maioria das vezes é concretizado por uma sociedade forjada em falsa moral, que na ânsia cega por justiça, se sente no direito arbitrário de julgar tudo e a todos, e que prefere excluir a amparar pessoas que nem sequer tiveram uma chance.

Assim, ao assistir o noticiário local de ontem, nem me surpreendi quando deram a notícia do suicídio de Diolino Jesus da Silva dentro do presídio estadual, pois isto nada mais é que o resultado da força da sociedade, ainda que seja uma força hipócrita, tirana e imbecil...

“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. 
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem...”


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2 comentários:

  1. Olá Geraldo! Gostei do teu blog, dos teus escritos
    e fiquei por aqui. Te convido a conhecer também o meu
    e se gostar, fique por lá pra gente trocar ideias,
    enfim palavras e compartilhar também amizade.

    Grande abraço e parabéns pelo conteúdo do seu blog!

    Bruno

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